Há alguns anos atrás, li uma crônica de uma jornalista que falava sobre a preocupação excessiva que as pessoas tinham com seu corpo, com seu peso, e, assim seguiam a vida esquecidas do peso de suas almas. Eram pessoas magras e pesadas.
Adorei o modo como ela pensou essa questão e, baseado naquele texto, escrevi uma história.
O grande problema é que não me lembro mais quem era essa jornalista. Já pesquisei e não encontrei mais o texto dela que deu origem a essa história.
Então, faço um apelo: Caso alguém saiba, escrevam, assim registrarei aqui seu nome, pois essa história nasceu da ideia dessa profissional, que iluminou meu coração.
De Alma Leve
Era
uma vez... há muitos e muitos anos atrás, ou será muitos e muitos anos à
frente? Bem, não importa. O fato é que nesse lugar, as pessoas tinham uma
relação interessante com a morte, e, por isso, cuidavam da vida de uma forma
peculiar.
Sabemos
que muitos quilos a mais no corpo colaboram para uma lista de problemas:
diabetes, pressão alta, problemas de circulação, problemas de locomoção,
doenças cardíacas, vontade de se esconder, desejo de eliminar os espelhos,
dificuldade de se vestir com algo que goste, dependência, problemas de encaixe,
vergonha.
Já
o excesso de peso na alma, essa gordura invisível, trazia desafios muito
maiores, desafios que dificultavam a vida em todas as áreas. Desânimo,
descrença, desconfiança, insatisfação geral (consigo, com os outros, com o
mundo), irritação, grosseria, intolerância, ansiedade.
Para
eles, o desafio não era emagrecer o corpo. O desafio era emagrecer a alma.
Aliás, não faltava carboidratos para fazer a alma ganhar quilos: estresse,
competitividade, relações pessoais desgastantes, problemas financeiros. E
rapidamente, as pessoas, sem perceber, viravam seres pesados. Seres que ninguém
queria por perto. Pessoas difíceis de conviver.
Os
pesados na alma não conseguiam enxergar os milagres da vida, não sabiam lidar
com imprevistos, não aceitavam os nãos que a vida dá, reclamavam de tudo,
viviam arrastados, entediados. Todo e qualquer desafio que a vida apresentava,
aparecia como um tormento, um obstáculo intransponivel, e, qualquer ajuda era contestada
e os olhos só viam o que havia de negativo nas situações... Até o que poderia
ser visto como benefício, acabava sendo encarado como prejuízo. E viviam sem
esperança. A esperança se alimenta de pequenas coisas, nas pequenas coisas ela
floresce. Os olhos dos pesados de alma não conseguiam enxergar nem as grandes
coisas... muito menos as pequenas.
Essa
preocupação com o peso de suas almas tinha relação direta com o que acreditavam
encontrar no céu, mas, eu digo agora à vocês, que também tinha a ver com o
desejo de serem felizes.
A
questão era que os habitantes dessa cidade acreditavam que, na longa viagem que
os mortos enfrentariam até chegar ao seu destino no céu, seriam obrigados a
participar de um ritual chamado pesagem da alma. Na cerimônia, a alma da pessoa
fazia sua defesa e se declarava inocente de vários pecados. Mas, em seguida,
passava por uma prova: seu coração, considerado a sede da consciência, era
colocado numa balança. Se pesasse mais que uma pluma, a alma estaria condenada
a uma série de castigos, podendo até ser devorada por um monstro. Já as almas
leves, em paz com a consciência, tinham a chance de seguir seu caminho, podendo
atingir o paraíso.
Para
se ter almas leves ao chegar no paraíso, todos procuravam conjugar diariamente
o verbo DESCOMPLICAR.
Tinham que aprender a exigir menos, viver com
menos, deixar por menos, enfim, SIMPLIFICAR.
Percebiam que o grande antídoto contra o peso
da alma era a diminuição do perfeccionismo, aceitar o que chega sem querer
controlar tudo.
Para
as pessoas desse lugar, cuidar do corpo também era uma tarefa, mas a
prioridade, sem dúvida nenhuma, era o cuidado com o espírito.
Para
cuidar do espírito, o interesse de todos não estava em ser bem sucedido
financeiramente. Ricos nessa cidade, não eram aqueles que tinham mansões,
cofres cheios de dinheiro, carros importados, roupas da moda. Ricos eram os que
tinham histórias para contar, palavras de conforto, situações que faziam rir,
momentos que emocionavam, que aproximavam, os bem sucedidos eram os ricos em
sonhos. E o mais curioso, era que essas pessoas não precisavam gastar dinheiro
com botox,
lipoaspiração, roupas chiques... elas tinham uma beleza e uma jovialidade que
pareciam ser pra sempre... Quem era rico em sonhos não envelhecia.
O
olhar voltou-se para o corpo, para o poder que ele traz. Corpo fala de poder,
poder de sedução, poder de força... Olha o que eu posso com esse corpo! E a
alma foi ficando esquecida...
Pois é... Essa civilização ainda vive... É a SUA civilização.
E ela ainda pode retomar seus
antigos ideais, porque VOCÊ faz parte dela.
E aí? Vai querer ter a alma leve?
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