A realidade é como uma bolha de sabão. É um instante e quando se viu já não é mais. Podemos guardar lembranças de bolhas toscas ou encantadoras que já vimos, mas são apenas lembranças.
Uma bolha de sabão surge do sopro, é impermanente, é translúcida e reflete tudo que está ao redor. Esse parece ser o retrato perfeito de uma existência. Surge do sopro fecundo da vida, vai se modificar e fenecer e assim como reflete tudo que está ao redor, também contém, dentro desta bolha transparente de vida, todas as coisas que espelha.
Isto é a realidade. Não é algo que foi, nem algo que será. É esta frágil bolha de sabão que representa este exato instante. E pode ser puro deslumbramento se formos capazes de compreender quão etéreo e sublime é o momento. Ou será uma triste experiência se quisermos nos apegar à uma determinada bolha. Não dá para armazenar, nem para manter uma bolha de sabão. Só podemos apreciá-la na medida de sua existência fugaz. Viu, viu, não viu, perdeu.
E quantos momentos perdemos? Quantos instantes escorreram pela mão enquanto estávamos distraídos olhando para outra coisa? Talvez o maior desafio de nossa vida seja acordar para o instante. Estamos sempre fazendo planos para o que virá depois ou pensando no que passou. É muito difícil estar no aqui e no agora. Tudo está acontecendo neste momento.
Tudo já está acontecendo, contudo nós estamos distraídos e não percebemos que somos o espelho que reflete tudo que está ao redor, igualzinho a uma bolha de sabão.
Pense bem, a vida não é sua casa, seu carro, seu emprego, seus status, nem sequer são os filhos que você trouxe ao mundo. A vida é esta bolha de sabão que aparece e desaparece de forma misteriosa, na brevidade do instante e tem a intensidade que nossa consciência permitir.
Podemos acreditar que haverá outro momento, outro tempo, outra oportunidade, mas certeza mesmo é deste único, exato, restrito e fugídio instante. No mais é o ilusório desejo de que de onde saem as bolhas do instante continue surgindo mais e mais bolhas onde possamos navegar na realidade presente. Vamos tendo a sorte de continuar recebendo as bolhas do momento, mas em algum tempo essas bolhas vão cessar e o que foi aproveitado foi, o que não foi, perdeu-se.
Talvez seja tempo de reaprender a brincar. Ninguém vê uma criança parar de brincar com as novas bolhas de sabão por pensar nas bolhas que foram ou nas que ainda virão. Divertir-se é renovar-se continuamente, é experimentar cada instante como novo.
Por isso uma criança pode brincar 50 vezes da mesma coisa com a mesma energia e alegria da primeira vez. O tédio é a falência da imaginação. Só aqueles que se divertem é que podem superar o tédio e viver em plenitude a vida. Experimente!
Dulce Magalhães
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