(...)
Um conselho aos pais e aos adolescentes: não levem muito a sério esse ato de colocar a profissão naquele lugar terrível. Aceitem que é muito cedo para uma decisão tão grave. Considerem que é possível que vocês, daqui a um ou dois anos, mudem de idéia. Eu mudei de idéia várias vezes, o que me fez muito bem. Se for necessário, comecem de novo. Não há pressa. Que diferença faz receber o diploma um ano antes ou um ano depois?
Em tudo isso o que causa a maior ansiedade não é nada sério: é aquela sensação boba que domina pais e filhos de que a vida é uma corrida e que é preciso sair correndo na frente para ganhar. Dá uma aflição danada ver os outros começando a corrida, enquanto a gente fica para trás.
Mas a vida não é uma corrida em linha reta. Quando se começa a correr na direção errada, quanto mais rápido for o corredor, mais longe ele ficará do ponto de chegada. Lembrem-se daquele maravilhoso aforismo de T. S. Eliot: "Num país de fugitivos os que andam na direção contrária parecem estar fugindo."
Assim, não se aflija. A vida é uma ciranda com muitos começos.
Coloque lá a profissão que você julgar a mais de acordo com o seu coração, sabendo que nada é definitivo. Nem o casamento. Nem a profissão. E nem a própria vida...
Rubem Alves
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
O Samurai e o mestre zen
O SAMURAI E O MESTRE ZEN
Certo dia, um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, sua beleza e o encanto daquele momento, o Samurai sentiu-se repentinamente inferior.
Ele então disse ao Mestre:
- "Por que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Por que estou me sentindo assustado agora?"
O Mestre falou:
- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei."
Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o Samurai estava ficando mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o Samurai perguntou novamente:
- "Agora o senhor pode me responder por que me sinto inferior?"
O Mestre o levou para fora. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente surgindo no horizonte. Ele disse:
- "Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: 'Por que me sinto inferior diante de você?' Esta árvore é pequena e aquela é grande - este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso."
O Samurai então argumentou:
- "Isto se dá porque elas não podem se comparar." E o Mestre replicou:
- "Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo. Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se este canto desaparecer.
"Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!"
Certo dia, um Samurai, que era um guerreiro muito orgulhoso, veio ver um Mestre Zen. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, sua beleza e o encanto daquele momento, o Samurai sentiu-se repentinamente inferior.
Ele então disse ao Mestre:
- "Por que estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Por que estou me sentindo assustado agora?"
O Mestre falou:
- "Espere. Quando todos tiverem partido, responderei."
Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o Samurai estava ficando mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o Samurai perguntou novamente:
- "Agora o senhor pode me responder por que me sinto inferior?"
O Mestre o levou para fora. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente surgindo no horizonte. Ele disse:
- "Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: 'Por que me sinto inferior diante de você?' Esta árvore é pequena e aquela é grande - este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso."
O Samurai então argumentou:
- "Isto se dá porque elas não podem se comparar." E o Mestre replicou:
- "Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo. Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. O canto de um pássaro é tão necessário quanto qualquer Buda, pois o mundo será menos rico se este canto desaparecer.
"Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único. Você é necessário e basta. Na Natureza, tamanho não é diferença. Tudo é expressão igual de vida!"
O direito ao delírio - Eduardo Galeano
Tenho gratidão por encontrar pessoas que expressam em palavras simples o desejo de nossas almas. Eduardo Galeano conseguiu isso.
Vamos delirar!
“Ainda que não possamos adivinhar o futuro, sim, temos ao menos o direito de imaginar como queremos que seja. Em 1948 e em 1976, as Nações Unidas proclamaram extensas listas de direitos humanos; mas a imensa maioria da humanidade não tem mais do que o direito de ver, ouvir e calar. Que tal se começarmos a exercer o jamais proclamado direito de sonhar? Que tal se delirarmos, um pouquinho? Vamos a fixar os olhos mais além da infâmia, para adivinhar outro mundo possível.
- O ar das ruas limpo de todo o veneno que não venha dos medos e das paixões humanas;
- Os carros sendo esmagados pelos cães;
- As pessoas não mais dirigidas pelos carros, nem programadas pelo computador, nem compradas por supermercados, nem também assistidas pela TV;
- A TV deixará de ser o membro mais importante da família e será tratada como um ferro de passar ou máquina de lavar roupa;
- Será incorporado aos códigos penais o crime de estupidez para aqueles que cometem: viver para ter ou para ganhar ao invés de viver para viver simplesmente, assim como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca;
- Os historiadores não mais acreditarão que os países gostam de ser invadidos;
- Os políticos que os pobres adoram comer promessas;
- Ninguém viverá para trabalhar, mas todos trabalharão para viver;
- Os economistas não chamarão mais o nível de vida de nível de consumo e nem chamarão de qualidade de vida a quantidade de coisas acumuladas;
- Os cozinheiros não mais acreditarão que as lagostas amam ser fervidas vivas;
- A morte e o dinheiro perderão seus poderes mágicos e nem por falecimento e nem por fortuna um canalha se tornará um virtuoso cavalheiro;
- Ninguém levará a sério alguém que não seja capaz de tirar sarro de si mesmo;
- O mundo não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza e a indústria militar não terá escolha a não ser declarar falência;
- Nenhum país irá prender os rapazes que se recusarem a cumprir o serviço militar, mas aqueles que quiserem podem servi-lo;
- A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio porque a comida e a comunicação são direitos humanos;
- Ninguém morrerá de fome;
- As crianças de rua não serão mais tratadas como lixo, porque não haverá mais crianças de rua, as crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá mais crianças ricas;
- A educação não será privilégio daqueles que podem pagá-la;
- A polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la;
- A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, serão novamente juntas de volta, bem grudadinhas, costas com costas;
- Na Argentina, as “Loucas de la Plaza de Mayo” serão um exemplo de saúde mental porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória;
- A Santa Madre Igreja corrigirá algumas erratas das tábuas de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo, a igreja também ditará outro mandamento que Deus havia esquecido: “amaras a natureza da qual fazes parte”;
- Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;
- Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles se desesperaram de tanto esperar e se perderam de tanto procurar;
- Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os tenham vontade de beleza e vontade de justiça, tenham nascido onde tenham nascido e tenham vivido quando tenham vivido, sem se importarem nem um pouquinho com as fronteiras do mapa e ou do tempo,
- Seremos imperfeitos porque a perfeição continuará sendo um chato privilégio dos Deuses;
- Neste mundo trapalhão, seremos capazes de viver cada dia como se fosse o primeiro e cada noite como se fosse a última.”
Eduardo Galeano
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
A utopia e o caminhar
"A utopia está lá no horizonte.
Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos.
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve a utopia?
Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar."
Eduardo Galeano
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
É urgente recuperar o sentido de urgência.
Gosto muito da Eliane Brum, quem não conhece eu recomendo. Nessa publicação ela nos leva a pensar e, quem sabe, até redefinir nossas prioridades e nosso modo de viver com o tempo.
Nós, que podemos ser acessados
por celular ou internet 24 horas, sete dias por semana, estamos vivendo no
tempo de quem?
Para vocês, Eliane
Brum...
Dias atrás, Gabriel Prehn Britto, do
blog Gabriel
quer viajar, tuitou a seguinte frase:
“Precisamos redefinir, com urgência, o significado de URGENTE”. “Urgente não é
mais urgente. Não tem mais significado nenhum.” Ele se referia tanto ao urgente
usado para anunciar notícias nada urgentes nos sites e nas redes sociais,
quanto ao urgente que invade nosso cotidiano, na forma de demanda tanto da vida
pessoal quanto da profissional. Depois disso, Gabriel passou a postar uns
“tuítes” provocativos, do tipo: “Urgente! Acordei” ou “Urgente: hoje é
sexta-feira”.
A provocação é muito precisa. Se há algo
que se perdeu nessa época em que a tecnologia tornou possível a todos
alcançarem todos, a qualquer tempo, é o conceito de urgência. Vivemos ao mesmo
tempo o privilégio e a maldição de experimentarmos uma transformação radical e
muito, muito rápida em nosso ser/estar no mundo, com grande impacto na nossa
relação com todos os outros. Como tudo o que é novo, é previsível que nos
atrapalhemos. E nos lambuzemos um pouco, ou até bastante. Nessa nova configuração,
parece necessário resgatarmos alguns conceitos, para que o nosso tempo não seja
devorado por banalidades como se fosse matéria ordinária. E talvez o mais
urgente desses conceitos seja mesmo o da urgência.
Estamos vivendo como se tudo fosse urgente.
Urgente o suficiente para acessar alguém. E para exigir desse alguém uma
resposta imediata. Como se o tempo do “outro” fosse, por direito, também o
“meu” tempo. Esse se apossar do tempo do outro pode ser compreendido como uma
violência. Mas até certo ponto consensual, na medida em que este que é
alcançado se abre/oferece para ser invadido. Torna-se, ao se colocar no modo “online”,
um tempo à disposição. Mas exige o mesmo do outro – e retribui a possessão.
Olho por olho, dente por dente. Tempo por tempo.
Como muitos, tenho tentado descobrir
qual é a minha medida e quais são os meus limites nessa nova configuração. E
passo a contar aqui um pouco desse percurso no cotidiano, assim como do
trilhado por outras pessoas, para que o questionamento fique mais claro.
Descobri logo que, para mim, o celular é insuportável. Não é possível ser
alcançada por qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar. Estou lendo um
livro e, de repente, o mundo me invade, em geral com irrelevâncias, quando não
com telemarketing. Estou escrevendo e alguém liga para me perguntar algo que
poderia ter descoberto sozinho no Google, mas achou mais fácil me ligar, já que
bastava apertar uma tecla do próprio celular. Trabalhei como uma camela e, no
meu momento de folga, alguém resolve me acessar para falar de trabalho,
obedecendo às suas próprias necessidades, sem dar a mínima para as minhas. Não,
mas não mesmo. Não há chance de eu estar acessível – e disponível – 24 horas
por sete dias, semana após semana.
Precisamos encontrar um jeito de usar a
tecnologia sem ser usada por ela.
O interessante é que quem não adota a
tecnologia como todos, é mal visto. Como assim eu não posso falar com você na
hora que eu quiser? Como assim o seu tempo não é um pouco meu? E se eu precisar
falar com você com urgência? Se for urgência real – e quase nunca é – há outras
formas de me alcançar.
Percebi também que, em geral, as pessoas
sentem não só uma obrigação de estar disponíveis, mas também um gozo. Talvez
mais gozo do que obrigação. É o que explica a cena corriqueira de ver as
pessoas atendendo o celular nos lugares mais absurdos (inclusive no
banheiro...). Nem vou falar de cinema, que aí deveria ser caso de polícia. Mas
em aulas de todos os tipos, em restaurantes e bares, em encontros íntimos ou
mesmo profissionais. É o gozo de se considerar imprescindível. Como se o mundo
e todos os outros não conseguissem viver sem sua onipresença. Se não atenderem
o celular, se não forem encontradas de imediato, se não derem uma resposta
imediata, catástrofes poderão acontecer.
O celular ligado funciona como uma
autoafirmação de importância. Tipo: o mundo (a empresa/a família/ o namorado/ o
filho/ a esposa/ a empregada/ o patrão/os funcionários etc) não sobrevive sem
mim. A pessoa se estressa, reclama do assédio, mas não desliga o celular por
nada. Desligar o celular e descobrir que o planeta continua girando pode ser um
risco maior. Nesse sentido, e sem nenhuma ironia, é comovente.
Por outro lado, é um tanto egoísta, já
que a pessoa não se coloca por inteiro onde está, numa aula ou no trabalho ou
mesmo em casa – nem se dedica por inteiro àquele com quem escolheu estar, num
encontro íntimo ou profissional. Está lá – mas apenas parcialmente. Não há como
não ter efeito sobre o momento – e sobre o resultado. A pessoa está
parcialmente com alguém ou naquela atividade específica, mas também está
parcialmente consigo mesma. Ao manter o celular ligado, você pertence ao mundo,
a todo mundo e a qualquer um – mas talvez não a si mesmo.
Me parece descortês alguém estar comigo
num restaurante, por exemplo, e interromper a conversa e a comida para atender
o celular.. Será que isso é realmente necessário? Será que uma pessoa não pode
se ausentar, ficar incomunicável, por algumas horas? Será que temos o direito
de invadir o tempo dos outros direta ou indiretamente? Será que há tantas
urgências assim? Como é que trabalhávamos e amávamos antes, então?
Bem, eu não sou imprescindível a todo
mundo e tenho certeza de que os dias nascem e morrem sem mim. As emergências
reais são poucas, ainda bem, e para estas há forma de me encontrar.
Minha principal forma de comunicação é
hoje o e-mail, porque sou eu que escolho a hora de acessá-lo. E, ao procurar
alguém, seja por motivo profissional ou pessoal, tenho certeza de não estar
invadindo seu cotidiano em hora imprópria. E desligo o computador antes de
dormir, como gesto simbólico que diz: fechei a porta.
É um momento histórico bem estratégico
de redefinição de limites, de territórios e também de conceitos. Que tipo de
efeito terá sobre as novas gerações a ideia de que não há limites para
alcançar, ocupar e consumir o tempo dos pais e amigos e mesmo de desconhecidos?
Assim como não há limites para ter o próprio tempo alcançado, ocupado e
consumido?
Ainda acho que o gozo de ser imprescindível a quase todos os
outros – no sentido de não poder se ausentar ou se calar – e também de ser
onipotente – no sentido de alcançar, a qualquer hora, o tempo de todos os
outros – é maior do que o incômodo. Mas talvez só aparentemente, na medida em
que é possível que não estejamos conseguindo avaliar o estrago que esses tempos
violáveis e violados possam estar causando na nossa subjetividade – e mesmo na
nossa capacidade criativa e criadora.
A grande perda é que, ao se considerar
tudo urgente, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que é prioritário em
todas as dimensões do cotidiano. E viver é, de certo modo, um constante
interrogar-se sobre o que é importante para cada um. Ou, dito de outro modo,
uma constante interrogação sobre para quem e para o quê damos nosso tempo, já
que tempo não é dinheiro, mas algo tremendamente mais valioso. Como disse o
professor Antonio Candido, “tempo é o tecido das nossas vidas”.
Falamos e ouvimos muito, mas de fato não sabemos se dizemos algo e se escutamos
algo. Ou se é apenas ruído para preencher um vazio que não pode ser preenchido
dessa maneira.
Será que não é este o nosso mal-estar?
Viver no tempo do outro – de todos e de
qualquer um – é uma tragédia contemporânea.
(Trechos do texto escrito pela
jprnalista Eliane Brum, para lê-lo na íntegra acesse: http://revistaepoca.globo.com//Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/04/e-urgente-recuperar-o-sentido-de-urgencia.html
)
Marcadores:
modernidade,
prioridades,
tecnologia,
tempo,
urgência
sábado, 18 de janeiro de 2014
Sem esforço, sem sabor.
Um Mestre Sufi contava sempre uma parábola no final de cada aula, mas os alunos nem sempre entendiam o seu significado.
- Mestre, - perguntou um deles, certo dia - tu contas-nos contos mas nunca nos explicas o que significam.
- As minhas desculpas. - disse o Mestre - Como compensação, deixa-me que te ofereça um belo pêssego.
- Obrigado, Mestre - disse o discípulo, comovido.
- Mais ainda: como prova do meu afecto, queria descascar-te o pêssego. Permites que o faça?
- Sim, muito obrigado. - disse o discípulo.
- E, já que tenho a faca na mão, não gostarias que eu cortasse o pêssego em pedaços, para que te seja mais fácil comê-lo?
- Sim, mas não quero abusar da tua generosidade, Mestre...
- Não é um abuso; sou eu que me estou a oferecer. Quero apenas agradar-te. Permite-me também que mastigue o pêssego antes de to oferecer...
- Não, Mestre! Não gostaria que fizesses isso! - queixou-se o discípulo, surpreendido.
O Mestre fez uma pausa e disse:
- Se vos explicasse o sentido de cada conto, seria como dar-vos de comer fruta mastigada.
Signifique sua vida!
Sentir se amado - Martha Medeiros
Sentir-se amado há coisa melhor?
Martha Medeiros, traduz essa necessidade brilhantemente.
O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.
Martha Medeiros, traduz essa necessidade brilhantemente.
O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.
A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?
Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.
Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.
Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.
Marcadores:
afeto,
amar,
compartilhar,
compreensão,
confiança,
escutar,
estar com o outro,
relacão
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
De alma leve
Há alguns anos atrás, li uma crônica de uma jornalista que falava sobre a preocupação excessiva que as pessoas tinham com seu corpo, com seu peso, e, assim seguiam a vida esquecidas do peso de suas almas. Eram pessoas magras e pesadas.
Adorei o modo como ela pensou essa questão e, baseado naquele texto, escrevi uma história.
O grande problema é que não me lembro mais quem era essa jornalista. Já pesquisei e não encontrei mais o texto dela que deu origem a essa história.
Então, faço um apelo: Caso alguém saiba, escrevam, assim registrarei aqui seu nome, pois essa história nasceu da ideia dessa profissional, que iluminou meu coração.
De Alma Leve
Era
uma vez... há muitos e muitos anos atrás, ou será muitos e muitos anos à
frente? Bem, não importa. O fato é que nesse lugar, as pessoas tinham uma
relação interessante com a morte, e, por isso, cuidavam da vida de uma forma
peculiar.
Sabemos
que muitos quilos a mais no corpo colaboram para uma lista de problemas:
diabetes, pressão alta, problemas de circulação, problemas de locomoção,
doenças cardíacas, vontade de se esconder, desejo de eliminar os espelhos,
dificuldade de se vestir com algo que goste, dependência, problemas de encaixe,
vergonha.
Já
o excesso de peso na alma, essa gordura invisível, trazia desafios muito
maiores, desafios que dificultavam a vida em todas as áreas. Desânimo,
descrença, desconfiança, insatisfação geral (consigo, com os outros, com o
mundo), irritação, grosseria, intolerância, ansiedade.
Para
eles, o desafio não era emagrecer o corpo. O desafio era emagrecer a alma.
Aliás, não faltava carboidratos para fazer a alma ganhar quilos: estresse,
competitividade, relações pessoais desgastantes, problemas financeiros. E
rapidamente, as pessoas, sem perceber, viravam seres pesados. Seres que ninguém
queria por perto. Pessoas difíceis de conviver.
Os
pesados na alma não conseguiam enxergar os milagres da vida, não sabiam lidar
com imprevistos, não aceitavam os nãos que a vida dá, reclamavam de tudo,
viviam arrastados, entediados. Todo e qualquer desafio que a vida apresentava,
aparecia como um tormento, um obstáculo intransponivel, e, qualquer ajuda era contestada
e os olhos só viam o que havia de negativo nas situações... Até o que poderia
ser visto como benefício, acabava sendo encarado como prejuízo. E viviam sem
esperança. A esperança se alimenta de pequenas coisas, nas pequenas coisas ela
floresce. Os olhos dos pesados de alma não conseguiam enxergar nem as grandes
coisas... muito menos as pequenas.
Essa
preocupação com o peso de suas almas tinha relação direta com o que acreditavam
encontrar no céu, mas, eu digo agora à vocês, que também tinha a ver com o
desejo de serem felizes.
A
questão era que os habitantes dessa cidade acreditavam que, na longa viagem que
os mortos enfrentariam até chegar ao seu destino no céu, seriam obrigados a
participar de um ritual chamado pesagem da alma. Na cerimônia, a alma da pessoa
fazia sua defesa e se declarava inocente de vários pecados. Mas, em seguida,
passava por uma prova: seu coração, considerado a sede da consciência, era
colocado numa balança. Se pesasse mais que uma pluma, a alma estaria condenada
a uma série de castigos, podendo até ser devorada por um monstro. Já as almas
leves, em paz com a consciência, tinham a chance de seguir seu caminho, podendo
atingir o paraíso.
Para
se ter almas leves ao chegar no paraíso, todos procuravam conjugar diariamente
o verbo DESCOMPLICAR.
Tinham que aprender a exigir menos, viver com
menos, deixar por menos, enfim, SIMPLIFICAR.
Percebiam que o grande antídoto contra o peso
da alma era a diminuição do perfeccionismo, aceitar o que chega sem querer
controlar tudo.
Para
as pessoas desse lugar, cuidar do corpo também era uma tarefa, mas a
prioridade, sem dúvida nenhuma, era o cuidado com o espírito.
Para
cuidar do espírito, o interesse de todos não estava em ser bem sucedido
financeiramente. Ricos nessa cidade, não eram aqueles que tinham mansões,
cofres cheios de dinheiro, carros importados, roupas da moda. Ricos eram os que
tinham histórias para contar, palavras de conforto, situações que faziam rir,
momentos que emocionavam, que aproximavam, os bem sucedidos eram os ricos em
sonhos. E o mais curioso, era que essas pessoas não precisavam gastar dinheiro
com botox,
lipoaspiração, roupas chiques... elas tinham uma beleza e uma jovialidade que
pareciam ser pra sempre... Quem era rico em sonhos não envelhecia.
O
olhar voltou-se para o corpo, para o poder que ele traz. Corpo fala de poder,
poder de sedução, poder de força... Olha o que eu posso com esse corpo! E a
alma foi ficando esquecida...
Pois é... Essa civilização ainda vive... É a SUA civilização.
E ela ainda pode retomar seus
antigos ideais, porque VOCÊ faz parte dela.
E aí? Vai querer ter a alma leve?
Desde que você fique comigo... Stand by me
“Há uns que nos falam e não ouvimos; há uns que nos tocam e não sentimos; há aqueles que nos ferem e nem cicatrizes deixam, mas... há aqueles que simplesmente vivem e nos marcam por toda vida.”
(Hannah Arendt)
quinta-feira, 16 de janeiro de 2014
Homens e Mulheres
Homens e Mulheres:
Diferenças que se completam...
Diferenças que se completam...
A vida como bolha de sabão
A vida como bolha de sabão. (O vídeo completa o texto...)
A realidade é como uma bolha de sabão. É um instante e quando se viu já não é mais. Podemos guardar lembranças de bolhas toscas ou encantadoras que já vimos, mas são apenas lembranças.
Uma bolha de sabão surge do sopro, é impermanente, é translúcida e reflete tudo que está ao redor. Esse parece ser o retrato perfeito de uma existência. Surge do sopro fecundo da vida, vai se modificar e fenecer e assim como reflete tudo que está ao redor, também contém, dentro desta bolha transparente de vida, todas as coisas que espelha.
Isto é a realidade. Não é algo que foi, nem algo que será. É esta frágil bolha de sabão que representa este exato instante. E pode ser puro deslumbramento se formos capazes de compreender quão etéreo e sublime é o momento. Ou será uma triste experiência se quisermos nos apegar à uma determinada bolha. Não dá para armazenar, nem para manter uma bolha de sabão. Só podemos apreciá-la na medida de sua existência fugaz. Viu, viu, não viu, perdeu.
E quantos momentos perdemos? Quantos instantes escorreram pela mão enquanto estávamos distraídos olhando para outra coisa? Talvez o maior desafio de nossa vida seja acordar para o instante. Estamos sempre fazendo planos para o que virá depois ou pensando no que passou. É muito difícil estar no aqui e no agora. Tudo está acontecendo neste momento.
Tudo já está acontecendo, contudo nós estamos distraídos e não percebemos que somos o espelho que reflete tudo que está ao redor, igualzinho a uma bolha de sabão.
Pense bem, a vida não é sua casa, seu carro, seu emprego, seus status, nem sequer são os filhos que você trouxe ao mundo. A vida é esta bolha de sabão que aparece e desaparece de forma misteriosa, na brevidade do instante e tem a intensidade que nossa consciência permitir.
Podemos acreditar que haverá outro momento, outro tempo, outra oportunidade, mas certeza mesmo é deste único, exato, restrito e fugídio instante. No mais é o ilusório desejo de que de onde saem as bolhas do instante continue surgindo mais e mais bolhas onde possamos navegar na realidade presente. Vamos tendo a sorte de continuar recebendo as bolhas do momento, mas em algum tempo essas bolhas vão cessar e o que foi aproveitado foi, o que não foi, perdeu-se.
Talvez seja tempo de reaprender a brincar. Ninguém vê uma criança parar de brincar com as novas bolhas de sabão por pensar nas bolhas que foram ou nas que ainda virão. Divertir-se é renovar-se continuamente, é experimentar cada instante como novo.
Por isso uma criança pode brincar 50 vezes da mesma coisa com a mesma energia e alegria da primeira vez. O tédio é a falência da imaginação. Só aqueles que se divertem é que podem superar o tédio e viver em plenitude a vida. Experimente!
Dulce Magalhães
A realidade é como uma bolha de sabão. É um instante e quando se viu já não é mais. Podemos guardar lembranças de bolhas toscas ou encantadoras que já vimos, mas são apenas lembranças.
Uma bolha de sabão surge do sopro, é impermanente, é translúcida e reflete tudo que está ao redor. Esse parece ser o retrato perfeito de uma existência. Surge do sopro fecundo da vida, vai se modificar e fenecer e assim como reflete tudo que está ao redor, também contém, dentro desta bolha transparente de vida, todas as coisas que espelha.
Isto é a realidade. Não é algo que foi, nem algo que será. É esta frágil bolha de sabão que representa este exato instante. E pode ser puro deslumbramento se formos capazes de compreender quão etéreo e sublime é o momento. Ou será uma triste experiência se quisermos nos apegar à uma determinada bolha. Não dá para armazenar, nem para manter uma bolha de sabão. Só podemos apreciá-la na medida de sua existência fugaz. Viu, viu, não viu, perdeu.
E quantos momentos perdemos? Quantos instantes escorreram pela mão enquanto estávamos distraídos olhando para outra coisa? Talvez o maior desafio de nossa vida seja acordar para o instante. Estamos sempre fazendo planos para o que virá depois ou pensando no que passou. É muito difícil estar no aqui e no agora. Tudo está acontecendo neste momento.
Tudo já está acontecendo, contudo nós estamos distraídos e não percebemos que somos o espelho que reflete tudo que está ao redor, igualzinho a uma bolha de sabão.
Pense bem, a vida não é sua casa, seu carro, seu emprego, seus status, nem sequer são os filhos que você trouxe ao mundo. A vida é esta bolha de sabão que aparece e desaparece de forma misteriosa, na brevidade do instante e tem a intensidade que nossa consciência permitir.
Podemos acreditar que haverá outro momento, outro tempo, outra oportunidade, mas certeza mesmo é deste único, exato, restrito e fugídio instante. No mais é o ilusório desejo de que de onde saem as bolhas do instante continue surgindo mais e mais bolhas onde possamos navegar na realidade presente. Vamos tendo a sorte de continuar recebendo as bolhas do momento, mas em algum tempo essas bolhas vão cessar e o que foi aproveitado foi, o que não foi, perdeu-se.
Talvez seja tempo de reaprender a brincar. Ninguém vê uma criança parar de brincar com as novas bolhas de sabão por pensar nas bolhas que foram ou nas que ainda virão. Divertir-se é renovar-se continuamente, é experimentar cada instante como novo.
Por isso uma criança pode brincar 50 vezes da mesma coisa com a mesma energia e alegria da primeira vez. O tédio é a falência da imaginação. Só aqueles que se divertem é que podem superar o tédio e viver em plenitude a vida. Experimente!
Dulce Magalhães
Marcadores:
impermanência,
mudança,
presença,
transição
Assinar:
Postagens (Atom)