domingo, 12 de maio de 2013

Dia das mães

Hoje é o dia das mães.

Pois eu vou usar uma metáfora que vocês, a princípio, não entenderão: no tempo antigo, as mulheres eram como árvores. Agora, elas se parecem com pássaros…

Disse que antigamente as mulheres se pareciam com árvores. As árvores não saem do lugar. Crescem onde plantamos. Indefesas. Não reagem, não fogem, não gemem – nem mesmo quando são cortadas a machado.
Pois assim eram as mulheres: nasciam e pelo resto de suas vidas teriam de obedecer aos homens. Primeiro, tinham de obedecer as ordens do pai. Depois, tinham de obedecer as ordens do marido.
Na verdade, nem antes de casar elas estavam livres. Estavam à mercê da vontade dos pais. Era o pai que decidia se ela devia se casar, quando e com quem. E nem tinham a liberdade de se decidir por uma profissão. Lugar de mulher era na casa, no fogão, na máquina de costura. As mulheres não eram donas do seu corpo, não mandavam no seu destino. Árvores à mercê da vontade do jardineiro, sem poder fugir… Como gostariam de ser pássaros, e voar para longe, longe…
Não podendo ser pássaros, as árvores dão flores. Flores são os pássaros das árvores. Flores são voos que não conseguiram voar e se cristalizaram em beleza e perfume. Quem dá uma flor a alguém está lhe dando um desejo de voar.
Muitas mulheres eram árvores que queriam voar e não podiam. Aí, como a camélia, começaram a dar flores. As flores podiam aparecer de várias formas: sob a forma de histórias, sob a forma de arte manual e até sob a forma de música. Enquanto tocavam, bordavam ou contavam histórias, voavam pelo mundo da beleza que nem pai e nem marido podiam impedir: a alma é livre.
Haviam mulheres que eram uma camélia mansa cujas flores apareciam de diferentes formas...
Outro jeito que as mulheres-árvores tinham de florir eram os filhos. Se elas não podiam voar de verdade, voavam imaginando os filhos voando. Viviam uma vida simples, modesta, sempre plantadas no chão – e eram sempre uma sombra e um colo onde os filhos tristes encontravam conforto. Especialmente nas coisas gostosas que só as mães sabiam fazer na cozinha. Fazer o prato predileto do filho: era o jeito que elas tinham de dizer às noras: “Você nunca tomará o meu lugar!“
Claro, havia umas mulheres revoltadas por não poder voar. Viravam cactos, só espinho. E os filhos sofriam. Mas os filhos não nem sempre tinham uma mãe só, alguns conviviam com outras mulheres, e sempre havia uma cheia de ternura. Por vezes as mães verdadeiras não são as mães de barriga – são as mães de coração.
As mulheres, hoje, se cansaram de viver para fazer vontade de pai e de marido. Estão se transformando em pássaros: querem voar – determinar o seu destino, ser donas de suas vidas. Liberdade: esse é um direito de todo ser humano.
Quando os filhos de hoje forem mais velhos e decidirem escrever sobre suas mães, ao invés de dizer que elas eram árvores, dirão que elas eram pássaros! E como os pássaros são belos no seu voo! Podem ser suaves como as gaivotas ou terríveis como os gaviões… Mas mesmo os pássaros precisam de uma árvore onde descansar e fazer os seus ninhos…
Fica uma dica:
Hoje, dia das mães, brinque de ser poeta.
Dê, como presente à sua mãe, uma metáfora poética.
De todas as flores e plantas que você conhece,
qual é aquela que mais se parece com ela?
Que flor ou árvore você plantaria para que nela
venha a morar, um dia?
Há uma grande variedade que vai dos delicados
jasmins do imperador até os cactos…
Mas pode ser que sua mãe seja um pássaro!
Texto adaptado de Rubem Alves

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