segunda-feira, 10 de junho de 2013
São Jorge
São Jorge contra o dragão da maldade
Sempre tive pena de São Jorge, condenado eternamente a lutar com o dragão, a luta que nunca chega ao fim, criança, eu imaginava que ele deveria ter mulher e filhos e que gostaria de poder voltar para casa, para cuidar das coisas do amor e do prazer. Foi então que um velho contador de estória, especialistas em memórias perdidas, me revelou o terrível segredo. São Jorge brigava com o dragão porque queria. Bem que tinha tido uma chance de terminar com seu suplício sem fim. E relatou:
Era uma vez, há muito tempo, um jovem guerreiro se apaixonara por uma linda donzela. Tão bravo e belo ele era que, das vizinhanças; todas as mulheres por ele se apaixonaram. Inclusive uma bruxa horrenda, que morava nos cenários desertos da lua e que, mesmo daquela distância infinita, com seus olhos telescópicos, havia contemplando o rosto do guerreiro. Mas sus olhos malvados, que tudo viam , viram também o romance do mancebo que passeava, mão dadas com sua amada, por viçosos jardins floridos. A inveja foi imensa, e lá das lonjuras lançou um feitiço: transformou a jovem princesa em dragão.
Mas foi inútil, o bravo Jorge continuo apaixonado por saber que no corpo escamoso morava a sua paixão. Mais furiosa ficou a bruxa e aumentou o feitiço. Decretou que o dragão encantado se transladace para lua, muito longe do apaixonado. Mas Jorge não se deu por vencido. Em noite de lua cheia, montado em seu cavalo, cavalgou no luar, e voou rumo á luz para a sua amada encontrar. Pobre bruxa malvada! Viu-se condenada a ver os dois apaixonados, dragão e guerreiro, bem diante de seu nariz, a namorar. E invocou o seu ultimo feitiço. “Se tu queres a tua amada de volta” ela disse ao mancebo, “Terás de dar-lhe combate. No dia em que o ferires de morte o feitiço se quebrará , e de cadáver do bicho a amada surgirá”.
E foi assim que a briga sem fim entre São Jorge e o Dragão começou. Acontece que São Jorge não acreditou e tinha sempre o temor de que, morto o dragão, morto estaria o amor. E ficou brincando de lutar. E foi por isso que a briga nunca chegou ao fim. Passaram-se os séculos, e daqui da terra se podia ver a briga entre São Jorge e o Dragão.
Acontece, entretanto, que como dizem os marxistas – e com toda razão- é na prática que se molda o pensamento. E depois de tanto lutar, São Jorge acabou por se esquecer o que significava amar. Perdeu-se como amante, congelou-se como guerreiro. Acontece que os deuses, penalizados com tal destino, resolveram desterrar a bruxa para um asteróide distante. Liberto dos olhos da bruxa, o Dragão voltou a ser o que era, a amante. Qual não foi a surpresa de São Jorge, quando, de armadura, lança e espada, pronto para a batalha, ao invés do horrendo Dragão, encontrou-se com a amada, os deuses esperavam sorrindo, este momento feliz. Mas o pobre São Jorge, depois de tanto lutar, já não sabia amar. Não quis tirar a armadura. Tinha vergonha de nudez. Não largou a espada, não deixou sua lança. Não sabia abraçar. Não sabia beijar. E o pobre guerreiro, outrora amante, compreendeu que seu destino, pelos séculos sem fim, era só lutar. Especialista em poder, nada sabia do prazer. E foi assim que orou aos deuses e lhes pediu seu último pedido: Que a linda donzela fosse de novo transformada em dragão. E é por isso que, até que o universo acabe, em noite de lua cheia, veremos o santo guerreiro lutando contra o dragão da maldade.
Estória triste. Dizem que aconteceu na lua.
Eu, ao contrário, penso que aconteceu na rua.
Pois é este o destino daqueles que, forjados na dureza da luta, quando o milagre acontece, descobrem que não sabem o que fazer com a donzela que o espera. Bem dizia Nitzesche, que é preciso o leão transforme em criança, mas que leão, animal forte, quer se ver despido, garras e juba? Melhor o poder que o prazer.
Elegemos o santo guerreiro na esperança que ele soubesse fazer amor. E descobrimos que, de tanto lutar, perdeu a imaginação de amar.
Parábola que dedico, aos santos guerreiros, destinados a lutar contra os dragões da maldade, incapazes de fazer amor com a cidade...
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quinta-feira, 30 de maio de 2013
A disputa das palavras
A Disputa das palavras - Tradição Sufi
Um homem doou uma moeda de prata a quatro pessoas. Uma delas, um persa, disse:
- Com esta moeda, quero comprar angur.
O segundo, um árabe, exclamou:
- Que insensato, não vamos comprar angur, vamos comprar inab.
O terceiro era turco e disse:
- Esta nem é minha também e não quero inab nem angur, quero uzum.
- O quarto, um grego, não se conformou:
- Calem-se todos, com esta moeda compraremos israfil.
Começaram a brigar entre eles porque ignoravam o verdadeiro sentido das palavras. Esbofetearam-se, insultaram-se, até que um homem sábio chegou ali. Ele conhecia muitas línguas e lhes disse:
- Dêem-me esta moeda e confiem em mim. Com ela comprarei algo que satisfará a todos vocês.
Sem opção melhor, eles lhe entregaram a moeda. O homem sábio foi ao mercado, comprou uma boa porção de uvas que entregou aos quatro briguentos. Todos ficaram satisfeitos vendo seu desejo realizado.
Ignorantes, eles não sabiam que todos desejavam a mesma coisa. Angur, inab, israfil e uzum significam uva nesses idiomas.
Publicada no Caderno de Contos para as fases da vida. Projeto Convivendo com Arte. Belo Horizonte. 2004.
segunda-feira, 20 de maio de 2013
A grande questão
“É para festejar seu aniversário que você está aqui na Terra”, responde o irmão.
E o gato diz: “Você veio ao mundo para ronronar. E um pouco também por causa dos ratos”.
O piloto diz: “Você está aqui para beijar as nuvens”.
A avó: “Para que eu possa mimar você, é claro!”.
O passarinho: “Para cantar a sua canção!”.
O comilão: “Para comer bem! Aí está o porquê”.
O três: “Para saber, um dia, contar até três”.
O soldado: “Você está aqui para obedecer”.
O cachorro: “Estamos aqui na Terra para latir, eu acho. E, às vezes, uivar para a Lua”.
O marinheiro: “Para navegar por todos os mares”.
A morte: “Você está aqui para amar a vida”.
A pedra: “Você está aqui para estar aqui”.
O pai: “Porque sua mãe e eu nos amamos”.
O jardineiro: “Você veio ao mundo para aprender a ser paciente”.
O cego: “Para confiar”.
O padeiro: “Você está aqui para acordar cedo”.
O pato: “Não faço a menor idéia”.
A irmã: “Você também está aqui para amar a si mesmo”.
O coelho: “Você está aqui para receber muito carinho”.
O lutador de boxe: “Para ir à luta!”.
E a mãe: “Você está aqui porque eu te amo”.
Quando você crescer, vai encontrar outras respostas para a grande questão.
Wolf Erlbruch
E você, já encontrou sua resposta?
As três peneiras
Fofoca não faz bem pra ninguém...
Que tal essa história?
As três peneiras
Um homem foi ao encontro de Sócrates, levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
- Mestre, o senhor nem imagina o que me contaram a respeito de um amigo seu. Disseram que o ... Nem chegou a completar a frase e Sócrates aparteou:
- Espere um pouco. Disse o mestre. - O que vai me contar já passou pelo crivo das Três Peneiras?
- Peneiras? Que Peneiras, mestre?
- Explico. Disse Sócrates. - A primeira é a peneira da VERDADE: Você tem certeza de que esse fato é absolutamente verdadeiro?
- Não. Não tenho, não. Como posso saber? O que sei foi o que me contaram. Mas eu acho que... E novamente é interrompido.
- Então sua história já vazou a primeira peneira. Vamos então para a segunda peneira que é a da BONDADE: O que você vai me contar, gostaria que os outros também dissessem a seu respeito?
- Claro que não! Deus me livre! Disse o homem, assustado.
- Então. Continua Sócrates - Sua história vazou também a segunda peneira. Vamos ver a terceira peneira, que é a da NECESSIDADE: Convém contar? É realmente importante a divulgação desta informação? Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade?
- Devo confessar que não. Disse o homem, envergonhado.
- Então, disse-lhe o sábio, se o que queres me contar
não é VERDADEIRO, nem BOM e nem NECESSÁRIO ...
... GUARDE APENAS PARA TI!
E ainda arrematou:
- Sempre que passar pelas três peneiras, conte! Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca a menos para envenenar o mundo e fomentar a discórdia.
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O abraço que salva...
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quinta-feira, 16 de maio de 2013
Entrego, confio, aceito e agradeço...
Entrego, confio, aceito e agradeço... Seguir isso pode parecer simples, mas não é fácil. Queremos controlar os acontecimentos e o rumo de nossas vidas, como se isso fosse possível...
Vale a pena refletir...
Viver no tempo...
A impressão que eu tenho é de não ter envelhecido embora eu esteja instalada na velhice.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou pra mim. Provisoriamente, mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra.
Como também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o futuro.
O meu passado é a referencia que me projeta e que eu devo ultrapassar. Portanto, ao meu passado eu devo o meu saber e a minha ignorância, as minhas necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu corpo.
Que espaço meu passado deixa para minha liberdade hoje? Não sou escrava dele. O que eu sempre quis foi comunicar da maneira mais direta o sabor da minha vida.
Unicamente o sabor da minha vida.
Acho que eu consegui faze-lo.
Vivi num mundo de homens, guardando em mim o melhor da minha feminilidade.
Não desejei nem desejo nada mais do que viver sem tempos mortos.
Simone de Beauvouir
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Sawabona Shikoba : Eu te respeito, eu existo pra você!
Há uma "tribo" africana que tem um costume muito bonito.
Quando alguém faz algo prejudicial e errado, eles levam a pessoa para o centro da aldeia, e toda a tribo vem e o rodeia. Durante dois dias, eles vão dizer ao homem todas as coisas boas... que ele já fez.
A tribo acredita que cada ser humano vem ao mundo como um ser bom, cada um de nós desejando segurança, amor, paz, felicidade.
Mas às vezes, na busca dessas coisas, as pessoas cometem erros. A comunidade enxerga aqueles erros como um grito de socorro.
Eles se unem então para erguê-lo, para reconectá-lo com sua verdadeira natureza, para lembrá-lo quem ele realmente é, até que ele se lembre totalmente da verdade da qual ele tinha se desconectado temporariamente:"Eu sou bom".
Sawabona Shikoba!
SAWABONA, é um cumprimento usado na África do Sul e quer dizer:
"EU TE RESPEITO, EU TE VALORIZO, VOCÊ É IMPORTANTE PRA MIM".
Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA,que é:
"ENTÃO, EU EXISTO PRA VOCÊ".
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Barulhentos?
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Music Painting
Música, desenho, história, arte... tudo junto e misturado.
http://www.youtube.com/watch?v=MAY1UoQYMHk
domingo, 12 de maio de 2013
Dia das mães
Hoje é o dia das mães.
Pois eu vou usar uma metáfora que vocês, a princípio, não entenderão: no tempo antigo, as mulheres eram como árvores. Agora, elas se parecem com pássaros…
Disse que antigamente as mulheres se pareciam com árvores. As árvores não saem do lugar. Crescem onde plantamos. Indefesas. Não reagem, não fogem, não gemem – nem mesmo quando são cortadas a machado.
Pois assim eram as mulheres: nasciam e pelo resto de suas vidas teriam de obedecer aos homens. Primeiro, tinham de obedecer as ordens do pai. Depois, tinham de obedecer as ordens do marido.
Na verdade, nem antes de casar elas estavam livres. Estavam à mercê da vontade dos pais. Era o pai que decidia se ela devia se casar, quando e com quem. E nem tinham a liberdade de se decidir por uma profissão. Lugar de mulher era na casa, no fogão, na máquina de costura. As mulheres não eram donas do seu corpo, não mandavam no seu destino. Árvores à mercê da vontade do jardineiro, sem poder fugir… Como gostariam de ser pássaros, e voar para longe, longe…
Não podendo ser pássaros, as árvores dão flores. Flores são os pássaros das árvores. Flores são voos que não conseguiram voar e se cristalizaram em beleza e perfume. Quem dá uma flor a alguém está lhe dando um desejo de voar.
Muitas mulheres eram árvores que queriam voar e não podiam. Aí, como a camélia, começaram a dar flores. As flores podiam aparecer de várias formas: sob a forma de histórias, sob a forma de arte manual e até sob a forma de música. Enquanto tocavam, bordavam ou contavam histórias, voavam pelo mundo da beleza que nem pai e nem marido podiam impedir: a alma é livre.
Haviam mulheres que eram uma camélia mansa cujas flores apareciam de diferentes formas...
Outro jeito que as mulheres-árvores tinham de florir eram os filhos. Se elas não podiam voar de verdade, voavam imaginando os filhos voando. Viviam uma vida simples, modesta, sempre plantadas no chão – e eram sempre uma sombra e um colo onde os filhos tristes encontravam conforto. Especialmente nas coisas gostosas que só as mães sabiam fazer na cozinha. Fazer o prato predileto do filho: era o jeito que elas tinham de dizer às noras: “Você nunca tomará o meu lugar!“
Claro, havia umas mulheres revoltadas por não poder voar. Viravam cactos, só espinho. E os filhos sofriam. Mas os filhos não nem sempre tinham uma mãe só, alguns conviviam com outras mulheres, e sempre havia uma cheia de ternura. Por vezes as mães verdadeiras não são as mães de barriga – são as mães de coração.
As mulheres, hoje, se cansaram de viver para fazer vontade de pai e de marido. Estão se transformando em pássaros: querem voar – determinar o seu destino, ser donas de suas vidas. Liberdade: esse é um direito de todo ser humano.
Quando os filhos de hoje forem mais velhos e decidirem escrever sobre suas mães, ao invés de dizer que elas eram árvores, dirão que elas eram pássaros! E como os pássaros são belos no seu voo! Podem ser suaves como as gaivotas ou terríveis como os gaviões… Mas mesmo os pássaros precisam de uma árvore onde descansar e fazer os seus ninhos…
Fica uma dica:
Hoje, dia das mães, brinque de ser poeta.
Dê, como presente à sua mãe, uma metáfora poética.
De todas as flores e plantas que você conhece,
qual é aquela que mais se parece com ela?
Que flor ou árvore você plantaria para que nela
venha a morar, um dia?
Há uma grande variedade que vai dos delicados
jasmins do imperador até os cactos…
Mas pode ser que sua mãe seja um pássaro!
Texto adaptado de Rubem Alves
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Pontes
Pontes existem para unir. E aí? Vamos facilitar?
http://www.youtube.com/watch?v=QsCUCtlOdW4
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Cheira a flor e sopra a vela
O que inspirou esse blog?
Há algum tempo, na minha lida diária com gente, percebi que muita coisa começava a se resolver com uma simples parada, olho no olho e uma conversa. Essa parada começava com uma boa respiração... aquela em que você realmente pára tudo e se percebe respirando... Nesses momentos é possível fazer grandes descobertas sobre o que está acontecendo a nossa volta.
Aqui compartilharei algumas vivências que iluminem nossa vida, imagens que tragam paz e vídeos e histórias para ampliar nossa percepção... Vem comigo?
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